segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Trim.
O som da máquina de escrever ecoou novamente.

Aqueles dias vagarosos passaram sem eu mal ter percebido. Coloquei o café na caneca e fiquei sentado datilografando até tudo ficar fosco novamente. Mais de uma semana sem dormir e estava me sentindo anestesiado. A dor, a alegria, a euforia. Tudo adormecido.

"(...) Tu sabes o quão complicado é viver nesse mundo com os dias lentos e fortes e sem resquícios do que eu já senti. Não sei abrir o meu pesado coração para quem não se compara à ti. Senta comigo na banheira novamente, vamos fumar um cigarro, ouvir disco na vitrola. Dança comigo, beija, entrelaça os dedos nos meus. Vamos voltar a sentar naqueles lugares charmosíssimos em que costumávamos. Não consigo mais sonhar enquanto durmo, então trapaceei o sono e fui sonhar acordado."

Depois de escrever, senti um tremor e uma falta de ternura dentro de mim. Coisas estranhas estavam acontecendo nesses últimos vinte e dois dias. Lembro-me de sentir uma pressão forte no lado direito da cabeça e ter uma sensação de dormência nos dedos dos pés. Sentia tremores nas mãos e falta de apetite.

Sempre que escrevia uma nova frase lembrava de histórias da minha infância. Eu sempre fui muito retraído. Não tinha amigos, não conhecia ninguém e nas raras ocasiões em que conversava, era com meus professores. Aprender sempre foi o meu foco. Não consigo me imaginar sem essa sede de conhecimento, acho que sempre esteve comigo. Hoje eu percebo que na infância meus dias eram mais compridos. O mundo que se parecia enorme agora diminuiu.

Escutei baterem forte na porta e ouvi um barulho, uma multidão de pessoas falando ao mesmo tempo. No olho mágico, não vi ninguém. Não dei mais bola pro barulho, e voltei a escrever.

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